As Irmãs de Caridade tinham vindo para o Hospital da Misericórdia da Póvoa de Varzim em 1 de Outubro de 1890, em condições bastante precárias, como informa Bernardino Faria em artigo saído na revista “Póvoa de Varzim” de Outubro de 1913: para além da comida e dormida, tinham direito a um hábito novo por ano. Na altura já o anticlericalismo grassava na vila:
A este propósito, lemos num jornal poveiro que uma vez uma das irmãs andava a pedir e dirigiu-se a um vendedor de peixe, que lhe escarrou na mão. Ela limpou-a e continuou: - Isso foi para mim, agora dê-me alguma coisa para os meus pobres.Na rua, transitavam invariavelmente aos pares, quase sempre por caminhos os mais curtos e escusos, esquivando-se dos lugares onde houvesse pessoas que as incomodassem e, principalmente quando para cá vieram, o rapazio e até adultos as surriavam bastante, com ditos mais ou menos picantes como os seguintes:- As Irmãs de Caridade… pum!Elas, com a vista baixa, lá seguiam o seu caminho, sem protesto ou indignação. E só raríssimas vezes respondiam, risonhas e amáveis.
Mas continuemos a ouvir Bernardino Faria:
Este procedimento republicano discriminatório é evidentemente reprovável e sem desculpa. Hoje cremos que é considerado crime, mas nenhuma consciência bem formada podia então tolerá-lo.Com o advento da República Portuguesa, e no sábado 8 de Outubro de 1910, tiveram conhecimento as irmãs que a autoridade administrativa por ordens superiores as não deixava continuar com hábitos talares (entenda-se, hábito). Algumas distintas senhoras desta vila, logo que souberam do facto, lhes enviaram diversas roupas e por sua vez a mesa de então ordenou que comprassem fazendas e fizessem as roupas que faltavam, para que trajassem civilmente, persuadidas que ficariam continuando com o seu mister. Porém, logo na segunda-feira, 10 do mesmo mês, foram elas avisadas pelo Sr. Administrador do Concelho que não podiam continuar mais ali, nem mesmo com outras vestes.Imagine-se os apuros e sustos das irmãs, receosas de serem presas; e, atarantadas e chorosas, partiram nesse mesmo dia até às duas horas da tarde, à excepção da velha Esperança, cozinheira da primitiva, quase inutilizada e sem família que a recebesse, que ficou e foi depois admitida como asilada, mas ultimamente também retirou para parte incerta.As irmãs que estavam no hospital por ocasião da expulsão eram:Superiora – Carolina da ApresentaçãoCozinheira – Maria dos AnjosDos asilados – S. BoaventuraBanco – FranciscaMedicina (homens) – S.to ÂngeloMedicina (mulheres) – SocorroCirurgia (mulheres) – FirminaVelha cozinheira – Esperança
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