segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A EXPULSÃO DAS IRMÃS DE CARIDADE DO HOSPITAL POVEIRO

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As Irmãs de Caridade tinham vindo para o Hospital da Misericórdia da Póvoa de Varzim em 1 de Outubro de 1890, em condições bastante precárias, como informa Bernardino Faria em artigo saído na revista “Póvoa de Varzim” de Outubro de 1913: para além da comida e dormida, tinham direito a um hábito novo por ano. Na altura já o anticlericalismo grassava na vila:

Na rua, transitavam invariavelmente aos pares, quase sempre por caminhos os mais curtos e escusos, esquivando-se dos lugares onde houvesse pessoas que as incomodassem e, principalmente quando para cá vieram, o rapazio e até adultos as surriavam bastante, com ditos mais ou menos picantes como os seguintes:
- As Irmãs de Caridade… pum!
Elas, com a vista baixa, lá seguiam o seu caminho, sem protesto ou indignação. E só raríssimas vezes respondiam, risonhas e amáveis.
A este propósito, lemos num jornal poveiro que uma vez uma das irmãs andava a pedir e dirigiu-se a um vendedor de peixe, que lhe escarrou na mão. Ela limpou-a e continuou: - Isso foi para mim, agora dê-me alguma coisa para os meus pobres.
Mas continuemos a ouvir Bernardino Faria:

Com o advento da República Portuguesa, e no sábado 8 de Outubro de 1910, tiveram conhecimento as irmãs que a autoridade administrativa por ordens superiores as não deixava continuar com hábitos talares (entenda-se, hábito). Algumas distintas senhoras desta vila, logo que souberam do facto, lhes enviaram diversas roupas e por sua vez a mesa de então ordenou que comprassem fazendas e fizessem as roupas que faltavam, para que trajassem civilmente, persuadidas que ficariam continuando com o seu mister. Porém, logo na segunda-feira, 10 do mesmo mês, foram elas avisadas pelo Sr. Administrador do Concelho que não podiam continuar mais ali, nem mesmo com outras vestes.
Imagine-se os apuros e sustos das irmãs, receosas de serem presas; e, atarantadas e chorosas, partiram nesse mesmo dia até às duas horas da tarde, à excepção da velha Esperança, cozinheira da primitiva, quase inutilizada e sem família que a recebesse, que ficou e foi depois admitida como asilada, mas ultimamente também retirou para parte incerta.
As irmãs que estavam no hospital por ocasião da expulsão eram:
Superiora – Carolina da Apresentação
Cozinheira – Maria dos Anjos
Dos asilados – S. Boaventura
Banco – Francisca
Medicina (homens) – S.to Ângelo
Medicina (mulheres) – Socorro
Cirurgia (mulheres) – Firmina
Velha cozinheira – Esperança
Este procedimento republicano discriminatório é evidentemente reprovável e sem desculpa. Hoje cremos que é considerado crime, mas nenhuma consciência bem formada podia então tolerá-lo.

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