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Em 1910, o prior da Póvoa de Varzim – ainda só havia uma paróquia – chamava-se Manuel Martins Gonçalves da Silva (Beiriz, Póvoa de Varzim, 27.02.1864-Póvoa de varzim, 1914). Devia ter cerca de 40 anos e era natural de Beiriz. Por feitio, era um lutador que se não acobardava perante ameaças. Por isso, apesar de ter assinado a proclamação da República em 7/10/1911, e de a ela ter francamente aderisdo a princípio, ergueu depois alto e bom som a sua voz, mesmo tendo de enfrentar a administração do concelho e o tribunal. Por fim, o ministro da justiça, por decreto, passando por cima das instâncias judiciais, em finais de Março de 1912, condenou-o a exílio.
Veja-se uma amostra do que se escreveu n’O Poveiro de 28/3/1912:
“Surpreendeu-nos dolorosamente a notícia do castigo com que o ministro da justiça distinguiu o ilustrado director d’O Poveiro e zeloso pároco desta vila, Rev. Manuel Martins Gonçalves da Silva. Dizemos distinguiu, porque hoje é na realidade uma alta distinção para os Reverendos Párocos serem igualados, na perseguição, aos Ex.mos Prelados.
Porque foi o primeiro pároco do país desterrado do seu concelho e não só da sua freguesia: não pequena honra cabe também a esta vila e a este jornal por contar o seu pároco e o seu director entre as vítimas da intangível lei da separação.
Porque foi só ela – para nós não resta a menor dúvida – a única lei ofendida (?) nas práticas que o nosso Rev. Pároco fez às missas conventuais contra a maçonaria e denominadamente contra o triângulo maçónico desta vila.
A intangível é filha predilecta da maçonaria; quem esta melindra a filha melindra e vice-versa.
O nosso Rev. Pároco não atacou a intangível, mas atacou a maçonaria, o que vem a dar na mesma.
Inde irae”.
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Há uma curiosidade na biografia do P.e Manuel Martins Gonçalves da Silva que levou a que fosse conhecido como o padre viúvo. Quando os seus estudos de seminário iam adiantados, abandonou-os e casou com uma sua conterrânea. Mas ela, quando teve o primeiro filho, uma menina, morreu. E morreu também a filha. E no leito da agonia, aconselhou o marido a voltar para o seminário. Ele fê-lo no dia 8 de Setembro de 1886.
Antes de vir para a Póvoa, este sacerdote foi professor no Externato Municipal de Vila do Conde e passou ainda pela paróquia de Azurara.
Pouco antes de partir para o exílio, o Prior da Póvoa tinha sido alvo duma homenagem pública. Um tal Aníbal Passos escreveu então sobre ele:
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“Efectivamente o Prior da Póvoa é alguém. Como todos aqueles que marcam uma personalidade, tem sido amado e odiado, tem sido objecto das dedicações mais acendradas e das calúnias mais grosseiras. Temperamento de lutador, não há perigos que o amedrontem nem inimigos que o façam vacilar. Doce com os fracos, a quem ampara, e indomável perante os poderosos, que nunca o apavoram, realiza admiravelmente a formosa imagem bíblica de mel fabricado na fauce despida de um leão, pois que, à brandura frágil duma criança junta as energias dum forte física e moralmente”..Imagens: em cima, Matriz da Póvoa de Varzim; em baixo, retrato a óleo do Prior poveiro, P.e Manuel Martins Gonçalves da Silva, existente na mesma Matriz, segundo o Boletim Cultural Póvoa de Varzim, Vol. XXXVIII, 2003, pág. 111.
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