sábado, 6 de fevereiro de 2010

O FIM DO PESADELO

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Aí por 1923, a pressão contra a Igreja, que fora timbre da Republica nascente, estava a passar.

Na Assembleia Constituinte, em 27 de Junho de 1911, Afonso Costa fora capaz de proferir esta ingenuidade (sublinhados nossos):


Tenho o maior prazer em dizer estas palavras ao Sr. Costa Bastos exactamente no dia imediato àquele em que foi votado pela Assembleia Nacional Constituinte, de uma maneira irrevogável, o princípio de liberdade de consciência e de culto, de completa separação da Igreja e do Estado, que não trouxe, debaixo do ponto de vista material, nenhuma luta.

Desde ontem, com mais nitidez do que pela lei da separação da Igreja e do Estado ficarão separadas as igrejas que vivem em Portugal, do Estado português da Republica, e tenho o enorme prazer de dizer que esta obra, que a outros países custou rios de sangue, e que em alguns é ainda uma aspiração, que à própria França da Revolução, da Convenção e dos Direitos do Homem, custou anos e tumultos, se consolidou desde ontem na Assembleia Constituinte, pela aceitação quase integral dessa lei, e pela não existência de qualquer tentativa de luta.

Já as pensões são requeridas aos montões, já as associações espirituais se constituem por toda a parte, já o padre da aldeia, honesto e patriótico, manifesta a sua adesão à lei.

Eu saúdo a Assembleia Nacional Constituinte, não só por ter ontem, quase por unanimidade, sancionado a lei de separação da Igreja e do Estado, pedra angular do Estado, mas principalmente por ter deixado o Estado livre de qualquer influencia religiosa, viesse ela da Igreja Católica ou de qualquer outra.


Como se enganava, tomando a nuvem por Juno! Para estar tão contente, tinha negado o voto à maioria dos portugueses.

Quanto a párocos que requereram pensões, há um caso conhecido no concelho da Póvoa, mas terá sido único. A proporção a nível do país não terá sido muito diferente.

As associações espirituais de que fala, que devem ser as famosas associações cultuais, deram em nada, por terminante oposição dos Bispos.

Quem recorda estes campeões da luta contra a opressão ideológica?

Depois, a imprensa estrangeira descobriu a situação desumana dos prisoneiros políticos, veio a participação na Guerra Mundial, os horrores cometidos no sul de Angola, as Aparições de Fátima, que haviam de ter o reconhecimento mundial, a Monarquia do Norte, etc. E por fim ruiu todo o edifício de ódio iniciado em 5 de Outubro..

Eça, falando do que tinha obrigação de conhecer, escreveu um dia:

O Partido Republicano em Portugal nunca apresentou um programa, nem verdadeiramente tem um programa. Mais ainda, nem o pode ter: porque todas as reformas que, como Partido Republicano, lhe cumpriria reclamar já foram realizadas pelo liberalismo monárquico. (…) A república não pode deixar de inquietar o espírito de todos os patriotas.

.Eça de Queirós, «Novos Factores da Política Portuguesa», Revista de Portugal, Volume II, Abril de 1890


Parece que não havia mais a dizer.

Como que a coroar o alívio da repressão anti-católica, celebrou-se em Braga, em 1924, o importante Congresso Eucarístico Nacional, onde proferiram alocuções muito elogiadas o futuro Cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira e António de Oliveira Salazar. Esteve presente Gomes da Costa, que já prestava serviço militar na cidade. Nalgumas cerimónias terão participado lá para 400.000 pessoas, número avultadíssimo para as capacidades de deslocação do tempo.

A Póvoa também teve o seu Congresso Eucarístico, no ano seguinte. Foi também um sucesso de participação popular e de glorificação da Igreja.

O pesadelo chegava ao fim – mas deixava atrás de si muito sofrimento e muitas feridas.


Imagem: Aspecto duma das manifestações populares do Congresso Eucarístico poveiro de 1925. Ao fundo da fotografia, vê-se o que então havia da Basílica do Sagrado Coração de Jesus, cujas obras a República obrigara a interromper.

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